sábado, março 20, 2004

Eu queria chorar, muito chorar.
Queria chorar de felicidade, chorar de amar.
E queria abraçar-te para não mais te largar,
unir-me a ti num laço invisí­vel,
construir-nos uma amizade indivisível.
E não consigo chorar.
Os sóis nascem e poem-se sucessivamente,
as noites mancham o céu ardentemente...
As marés vão; o sonho vem,
flutuando, pairando no ar suspenso
por fio de côco... mas não cai,
voa sempre, voa sempre...
Voa, como nós, voa...
Simplesmente voa, em voos picados,
em voltas supersónicas... para depois nos bombardear
de esperança, de força, de sonho.
E o sonho constrói o sonho...

E eu queria tocar-te, beijar-te indecentemente,
amar-te simplesmente...

Queria chorar contigo, sonhar contigo,
voar contigo, mas não consigo...

Eu queria chorar, muito chorar!!!
E condensar o mundo num só grito!!!
E moldá-lo, esculpi-lo à  nossa maneira...
Desenhar um vale só para ti,
só teu, como um jardim proibí­do...
Um vale de cascatas, de recantos,
de sons, músicas e profundos prantos..
E amar-te demais, chorar-te!

Mas não consigo...

Por isso choro para dentro, impludo
em lágrimas que caem em mim.
Lentamente, caem no abismo
escuro e sombrio do meu Ser.
Caem para sempre, inundando o meu ver...
Esperam as lágrimas que um dedo teu
as seque, para que a tua luz de ouro cegante
se transforme em diamante,
e acenda de novo o esplendor do meu amor errante...

Agora choro, choro demais, para ti...
correm as lágrimas descendo o meu rosto,
correm teus dedos como nunca vi...
Assim corro eu com força de ti, chorando de mais...

Para ti...