terça-feira, abril 13, 2010

Oxalá seja essa cor a tua cor verdadeira, oxalá sejamos amantes sem tecto, amantes sem terra e sem dinheiro, porque teremos nós de existir tão perto do fim do mundo, porque serão as manhãs cada vez mais curtas, a morte não te há-de matar, os deuses não te hão-de levar, eu sonho com muitos sábados de sol em que saímos ao sol e debaixo do sol pedimos mais sol que venha queimar-nos os joelhos, e a metade verde dos braços, eu sonho ainda outras vezes com um velho fiat 127 azul debaixo do sol de um sábado de sol e a música no rádio a tocar num dia de glória, a glória será não esquecer tudo isto, tudo isto e tudo isto é muito pouco para se esquecer, terás os teus dias na sétima cor que invadiu a península, ao sétimo dia de marcha os pés cansaram-se, as mãos não puderam tapar mais os olhos, que cegaram, e a música renasceu na fronteira entre a montanha e a planície, quem poderá dizer, a morte não te há-de matar, viverás, oxalá sejamos amantes quando viveres, diz se vives por favor, ou se já nasceste, quero ir ver-te onde as manhãs não forem tão curtas, encontrar-te-ei e poderemos então falar, respirar a mesma flor na mesa de cabeceira, ouve, estaremos sós?